A Fera & A Bela – E o despertar feminino

Geralmente (ou quase sempre) nenhuma história universal é um acaso do destino. Histórias universais são assim conhecidas por um motivo – elas habitam dentro de nós! Elas fazem parte do que Jung chamou de inconsciente coletivo – um lugar onde processos psicológicos desencadeados para desenvolver nossa personalidade, são representados por imagens e narrativas universais. Que de alguma forma, apresentam-se para todos nós como uma espécie de memória inconsciente, independente de nossas experiências de vida.

Há um mito universal que expressa bem esse tipo de despertar – o conto A Bela e a Fera.

Na história mais tradicional, ao elucidarmos todo o seu simbolismo, segundo a organização de Jung (no livro O Homem e seus Símbolos – download aqui), “verificamos que Bela representa qualquer jovem ou mulher envolvida numa ligação afetiva com o pai, ligação que só não se estreita mais devido à natureza espiritual do sentimento que os une. Sua vontade está simbolizada na encomenda de uma rosa branca, mas, por uma significativa distorção no sentido do pedido feito, a sua intenção inconsciente coloca o pai e a filha sob o domínio de uma força que não expressa apenas bondade, mas bondade misturada a crueldade. É como se Bela desejasse ser salva de um amor que a mantém virtuosa, mas em uma atitude fora do real.

Aprendendo a amar a Fera, Bela desperta para o poder do amor humano disfarçado na sua forma animal (e portanto imperfeita), mas também genuinamente erótica. Presumivelmente, esse fenômeno representa o despertar das verdadeiras funções do seu relacionamento, permitindo-lhe aceitar o componente erótico do desejo inicial que fora reprimido por medo ao incesto. Para deixar o pai, ela precisou, por assim dizer, aceitar esse medo ao incesto e tê-lo presente apenas na sua fantasia, até conhecer o homem-animal e então descobrir suas verdadeiras reações como mulher.

Dessa maneira liberta a si mesma e a imagem que faz do homem, das forças repressivas que a envolvem, tomando consciência da sua capacidade de confiar no amor como um sentimento onde natureza e espírito estão unidos, no mais elevado sentido destas palavras.”

Então, esse amadurecimento ou despertar, como descreveu C. G. Jung em seu livro, pode ser percebido em tantas outras histórias antigas e modernas. No entanto, podemos tomar dois filmes mais atuais que trazem o mesmo arquétipo da Bela e a Fera como tema. Basta observar com atenção a história da saga Crepúsculo e a trilogia de 50 Tons de Cinza, para perceber a mesma problemática da Bela e o seu despertar. Ou seja, a linha narrativa é a mesma – são jovens que entram em contato com uma figura masculina extremamente forte, do seu ponto de vista, que por sua vez é a representação do seu lado animal (a fera).

O objetivo desse enfrentamento é justamente buscar o equilíbrio e encontrar a harmonia com seu lado primitivo. Não é pra menos que, em quase todas as histórias tradicionais ou não, a figura de uma fera que vira príncipe (ou o inconstante que vira bom moço) é utilizada como representação da harmonia conquistada, ao se conectar com sua fera interior.

*Conteúdo baseado no livro O Homem e seus Símbolos, de organização de Carl G. Jung.

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